Quem não se deleita em dar asas ao que iniciou?
Porém nem sempre a vida continua. A vida muda sem pedir licença. Adaptar é viver.
Aprendi a ser feliz de muitas maneiras. Às vezes dou comigo a pensar...
Dizem que a vida segue um molde traçado no céu. Não vale a pena tentar entender...
Eu nem sempre entendi os caminhos que percorri e porque os percorri...
Sigo em frente, com a certeza que no meu âmago eu sou quem sou e nada mais.
No meu percurso, encho a vida de tudo e de todos; o meu lema é " sorrir a cada dia".
Amo a todos que trilharam e trilham o caminho que percorro.
Nos entretantos, do meu dia a dia, eu sonho. Sonho, com um passado que não foi; sonho, com um presente que não é; sonho, com um futuro que gostaria que fosse.
A alma á procura , sempre á procura daquela que fui...
No meu coração tão cheio de vida, deixo os sentimentos moldarem o meu dia.
Por vezes, sinto uma juventude avassaladora a envolver-me a mente e a alma.
A rebeldia de ser jovem outra vez, possui-me como que a exigir, que o meu corpo hoje cansado,
rejuvenesça, e, eu volte a ser aquela mocinha nova que um dia eu conheci.
A alma pronta a abraçar a vida, a mente pronta a dar e a receber, com o vigor
da mocidade.
Tento ocupar o meu espírito revolto.
Esses dias de sonhos encantadores são tumultuosos, cansam-me.
Pego em mim mesma, e saio a pé pelos caminhos lindos e calmos da vila onde vivo.
Vou à procura da minha juventude interrompida.
Aquela que deixei do outro lado do mundo.
No fundo do meu ser uma imagem prevalece...
Sempre... sempre ... lá está...
No meio do bulício do meu cérebro, a imagem aparece!
È como uma visão que me alegra e distrai do presente que sou agora.
Afasto-a...
Nego-me a olhá-la ...
Olho o lago, sigo os patos que nadam , ouço os pássaros que cantam,
deixo a brisa do dia refrescar a minha fronte , e o sol beijar-me os lábios..Sento-me num banquinho, as pernas a pedir descanso; os olhos fixos no lago calmo
de tons de azul e verde onde se reflectem as nuvens, brancas e belas ...
A minha alma... Ah! A minha alma, essa, vê a imagem flutuando dentro de mim;
uma baía de águas azuis , um bando de flamingos cor de rosa,
um peixe que salta, miúdos brincando na areia, um rapaz trepando a palmeira,
silhuetas de barcos de pescadores ao raiar da manhã, ondas mansas entoando a canção do mar...
e muito ao longe vozes ...
Vozes chamando por mim num suspiro surdo...
Sempre...
Sempre aquela imagem, do que foi e já não é.
Sempre aquela imagem, que me tolda o presente, como uma neblina constante, ou como
uma imagem de fundo de palco de teatro onde se esqueceram de mudar a cena.d
Tento arrumar aquela imagem distante num cantinho da minha alma...
Mas teimosamente, vejo uma mocinha que sorri para mim, ela flutua dentro de
uma bolinha de sabão brilhante de vida.
Uma cacofonia de sons despertam o meu desvaneio...oiço os gansos que chegam em revoada.
Por instantes, a imagem desvanece-se ... o meu intímo desperta.
O meu dia prossegue no presente da vida.
O telefone toca, a imagem dos meus filhos, das minhas netinhas, de entes queridos,
amizades boas, assomam á janelinha que seguro na palma da minha mão aberta á vida.
Sorrisos, palavras, que,me fazem viver com a energia que o coração me dá,
e que, os meus ossos roído de tempestades do caminho me permitem.
Rio e brinco, falo com entusiasmo, encho o dia da vida que hoje sou.
As horas voam... os dias passam...os anos correm...
O sol do fim do dia repleto de cores douradas chega e ilumina o meu jardim.
Sento-me a disfrutar da luz daquele momento que sinto ser parte de mim.
Por entre as nuvens de tons de rosa e laranja, encontro outra vez aquela imagem.
As mesmas cores, a mesma luz ecoam momentos que vivi.
Sempre... Sempre...
A mocinha que um dia nunca chegou a ser e que hoje ainda é.
Virginia Sousa
VSmile
Tillsonburg, 27 de Fevereiro 2024
